Como não cair no golpe do WhatsApp?

Provavelmente você já foi abordado no WhatsApp por alguém se passando por seu parente (filho, filha, irmão) ou amigo e amiga, porém, descobriu depois que tinha caído em um golpe. Hoje, vamos te dar algumas dicas para você não cair no famoso golpe do WhatsApp!

Como age o golpista?

Geralmente, esse golpe é aplicado a partir da foto que a pessoa usa no perfil do WhatsApp. O golpista copia a foto e descobre o número de seus parentes ou amigos mais próximos. Assim, com a sua foto e o número de telefone dele, ele te envia uma mensagem dizendo que trocou de número e que precisa de um PIX, com urgência, para pagar alguma conta ou alguém.

A pessoa que recebe a mensagem se sensibiliza e faz o PIX, mesmo sabendo que está transferindo dinheiro para uma terceira pessoa, que não é a da foto.

Como descobrir que se trata de um golpe?

Para ter certeza de que você está ajudando a pessoa que aparece na foto, você pode ligar para ela ou mandar mensagem no número original dela que você já tinha. Caso ela não atenda ou não responda, tente ligar para o golpista ou pedir para ele te enviar uma mensagem de voz. Assim, você saberá com quem está falando de verdade.

Porém, como estamos em um blog com dicas de língua portuguesa, queremos te mostrar outra forma mais segura de saber com quem você está falando: analisando a linguagem que a pessoa utiliza.

Você não precisa se preocupar em fazer uma análise detalhada e complexa, mas você deve prestar atenção aos seguintes detalhes:

  • Como a pessoa da foto costuma te chamar? Por seu nome inteiro (Olá, Fernanda), um apelido (Oi, Fefa), uma abreviação do seu nome (Oi, Fer), uma forma carinhosa (Oi, amiga)?
  • Como ela costuma te cumprimentar (Bom dia, Diaaaa, Fala amigaaaa)?
  • Ela costuma mandar emojis (❤, 🌟, 🙏)? Se sim, quais ela costuma enviar?
  • Ela envia figurinhas? Se sim, ela enviou uma figurinha nova ou é a de sempre? Se não, por que agora ela enviaria?
  • Ela pediria dinheiro para você? Se sim, você emprestaria?
  • Ela costuma estar com muita pressa para resolver os problemas? Ela sempre está precisando de dinheiro?
  • A forma como ela está escrevendo é muito formal? Ela sempre escreve assim? Ela costuma escrever corretamente? Ela respeita a pontuação?
  • Ela costuma escrever abreviado no WhatsApp (vc, tá, ñ)? Agora ela está abreviando também ou está escrevendo as palavras inteiras (você, está, não)?
  • Ela costuma mandar a mensagem completa de uma vez (Oi, bom dia, anota meu número) ou vai dividindo as informações (uma mensagem para “Oi”, outra para “bom dia”, outra para “anota meu número”)?
Vamos analisar uma mensagem?

Nesse caso ao lado, o golpista começou o diálogo com uma abordagem bem carinhosa: disse “Boa tarde”, chamou o interlocutor de “mãe” e mandou dois emojis na mesma mensagem.

Porém, não há ainda nenhuma justificativa de porque a filha teria mudado de número. Para se identificar, o golpista colocou o suposto nome da filha em caixa alta: LUCIANA. Você acha que uma filha diria o nome completo para se identificar para sua mãe? Ou ela diria simplesmente “mãe, é a Lu”?

Outro indício de golpe é a chamada de voz um minuto depois do texto. A mãe provavelmente não ouviu a chamada porque o golpista deu um toque só para deixar registrado que tentou o contato. Essa é a oportunidade para ligar de volta e verificar se quem está falando é mesmo a Luciana.

Perceba que, com apenas duas mensagens de texto e poucas palavras, você conseguiria identificar que se trata de um golpe. Vimos que a apresentação é muito formal para uma relação mãe e filha (LUCIANA), o golpista não utiliza nenhuma vírgula ou sinal de pontuação (o texto está corrido) e, nesse caso, nem mesmo a foto do contato aparece.

Vejamos mais um caso…

Nesse exemplo, o golpista conseguiu a foto da pessoa por quem ele iria se passar e começou a conversa com um simples “Oi”. Nesse caso, a formalidade está presente na conversa, pois ele diz “Anota meu número novo.”, “assistência técnica”, “Vou usar esse alguns dias”.

Novamente vemos a chamada de voz para fingir que houve um contato. Agora, vamos analisar juntos o texto. Aqui aparece a justificativa para a troca de número, porém, seria mais provável que a filha dissesse “levei pra arrumar”, “levei pro conserto” ou até “levei pra assistência” do que “levei pra assistência técnica”.

Outra característica deste texto é a divisão da informação em cinco mensagens. Com isso, as notificações são recorrentes e dão a ideia de urgência. Porém, se a pessoa está com pressa e a internet está ruim, não seria mais fácil ela ligar para a própria mãe?

É claro que, na hora do desespero, você não vai pensar em tudo isso, mas seguindo essas dicas, você pode evitar cair em um golpe.

O que fazer quando eu descobrir que é um golpe?

Depois de fazer essa análise das mensagens e desconfiar que não está falando com a pessoa da foto, você pode simplesmente bloquear e denunciar aquele número.

QUEM ESCREVE?

Fernanda Massi é Mestra e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP/Araraquara. Ela é também Pós-doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP. Foi professora de Leitura e Produção de Textos na UNESP/Araraquara e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Nesse período, orientou trabalhos de conclusão de curso (TCC) e de iniciação científica. Fernanda trabalha com revisão de texto desde o início da sua graduação em Letras (2004) e é também a responsável pela equipe de revisão da Letraria.

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