As vozes de um texto sempre existem, mesmo quando não estão textualmente marcadas por um “Na minha opinião”, “Para mim”, “Eu acho que”. Isso porque as escolhas lexicais (verbos, substantivos, adjetivos) e a organização textual são indícios da caracterização, da formação e da opinião do enunciador. Assim, você pode pode escrever um texto dissertativo em terceira pessoa, como se a tese defendida fosse uma verdade universal.
Quem fala no texto?
Há sempre um “eu” por trás de qualquer discurso, mas também podem ser evocadas diversas vozes, que trarão seus próprios discursos: a de outros autores, a de outras culturas, a do senso comum. Isso ocorre quando o(a) autor(a) dá a palavra a outros enunciadores por concordar ou discordar deles.
Visto que o “eu” está sempre pressuposto, é necessário identificar a introdução da voz do outro. Assim, a melhor forma (ou talvez a mais segura) de marcar essa presença alheia é pelo discurso direto, em que se faz uso de aspas, recuo (citações de mais de 3 linhas em textos científicos), travessão (em textos narrativos), etc.
No entanto, o discurso indireto também aparece em expressões como “o autor afirma que”, “segundo a pesquisadora”, “conforme a pesquisa”… Nesses casos, a voz ativa é de quem foi citado (pelo nome ou por uma identificação – autor, pesquisadora) ou também do objeto produzido (o livro, o artigo, a pesquisa). Ainda, é possível usar a voz passiva, por exemplo, “Foi discutido neste trabalho”.
Como marcar as falas?
Do mesmo modo que o texto narrativo marca seus personagens e suas respectivas falas, o texto dissertativo deve marcar as vozes dos(das) autores(autoras) e seus discursos. Caso você não faça distinção entre o conteúdo produzido por você e o conteúdo produzido por outros autores(as), é muito provável que seu trabalho seja acusado de plágio. Os programas antiplágio sabem diferenciar as citações e suas devidas referências (feitas de acordo com a ABNT) das cópias. Tome cuidado!
Enquanto produtor(a) de textos, você deve se preocupar com essa delimitação de quem está falando e em quais momentos. Quem lê, por sua vez, não tem obrigação de adivinhar de quem é aquela voz. Assim, voc~e precisa deixar marcas que ajudem nessa interpretação.
QUEM ESCREVE?
Fernanda Massi é Mestra e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Unesp/Araraquara. Ela é também Pós-Doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP. Foi professora de Leitura e Produção de Textos na Unesp/Araraquara e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Nesse período, orientou trabalhos de conclusão de curso (TCC) e de iniciação científica. Fernanda trabalha com revisão de texto desde o início da sua graduação em Letras (2004) e é também a responsável pelas revisões da Letraria.
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