Pleonasmo: mais do mesmo?

O pleonasmo é a repetição de uma ideia com palavras diferentes. Os casos mais clássicos e popularmente conhecidos são:

subir pra cima

descer pra baixo

certeza absoluta

entrar para dentro

conviver junto

duas metades iguais

encarar de frente

Esse é o tipo de “erro” que muita gente adora corrigir porque ele é evidente para quem ouve. Ou seja, não tem como subir para outro lugar que não seja acima. Não há como descer para o lado. Porém, há como se deslocar para cima ou para baixo.

Da mesma forma, toda certeza é absoluta, pois se trata de uma convicção. Assim também, a entrada é sempre para dentro, porque para fora se chama “saída”. Por sua vez, as metades só podem ser iguais, senão seriam “partes”.

Ao mesmo tempo, o “conviver” é sempre “viver com”, ou seja, “viver junto“. Não há como “conviver separado”. A mesma lógica se aplica a “encarar de frente”, pois a “cara” está na parte da frente do nosso corpo. Logo, seria impossível “encarar de costas”.

O pleonasmo é um erro gramatical?

Você reparou que coloquei a palavra “erro” entre aspas no início do texto? Isso porque os ouvintes ou leitores conseguem perceber o pleonasmo facilmente. Porém, para quem fala ou escreve, o pleonasmo pode ser usado como um recurso de realce, feito de forma proposital. Ou seja, o falante sabe que está sendo redundante, mas entende que essa é a sua escolha.

Também é preciso considerar as diferenças entre fala e escrita. A fala é mais solta, menos monitorada e permite correções imediatas. Já a escrita é distante, mais controlada e mais precisa. Na fala, temos mais liberdade para usar uma quantidade maior de palavras, mas na escrita, muitas vezes, somos limitados.

Além de considerar essas diferenças, precisamos entender o contexto de produção. Para isso, é preciso saber se o contexto é mais ou menos formal, qual é o tempo de fala que se tem ou qual é o tamanho que o texto precisa ter. Enfim, esses detalhes são importantes para nos deixar mais atentos na hora de escrever ou falar.

Assim, a noção de erro pode variar em função de todos esses fatores. Particularmente, eu prefiro evitar o pleonamo pelo princípio da objetividade, da economia linguística. Ou seja, quanto menos palavras, menos chance de erros. 😉

QUEM ESCREVE?

Fernanda Massi é Mestra e Doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela UNESP/Araraquara. Ela é também Pós-doutora em Linguística Aplicada pela UNICAMP. Foi professora de Leitura e Produção de Textos na UNESP/Araraquara e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).  Nesse período, orientou trabalhos de conclusão de curso (TCC) e de iniciação científica. Fernanda trabalha com revisão de texto desde o início da sua graduação em Letras (2004) e é também a responsável pela equipe de revisão da Letraria.

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